NOTA

A morena que anda em busca do amor da sua vida está a vestir-se, a mirar-se de todos os ângulos, desde os sapatos ao penteado.
São nove da noite e ela mora longe do centro da cidade. Hoje vai mulher, com sapatos de salto alto, saia preta e blusa branca, brincos em forma de argola grande, dourados, e o cabelo apanhado de um carrapito, de modo a deixar-lhe o pescoço libre, simultaneamente desprotegido e tentador.
Morar longe significa ter casa num deserto de casas, onde às nove da noite os cafés fecham, e às dez já não se vê vivalma nas ruas.
As casas são de um só piso, na rua dela, já velhas, mas a maior parte tem bons carros à porta.


Entra no café junto ao liceu — único ainda aberto — e encontra os amigos a beber cerveja. Pede um café e um licor. Conversam.
— Vamos? — diz alguém, em certo momento.
Estão prontos. A noite espera-os. Vão.

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